segunda-feira, 16 de agosto de 2010

1° Gaitaço


Na Baixada Do Manduca

Os Monarcas

Composição: Noel Guarany.
Lá na baixada do manduca
Hay reboliço de china
Três guitarras orientales
E uma gaita corrientina
E o biriva rio grandense
Com toadas lisboinas.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
O chinaredo lá da estância
Se "aprepara" já faz dias
Segundo siá basilícia
Vai trazer várias famílias
Prá escutar o dom ortaça
E o gaiteiro malaquias
E o cantor da bossoroca
Que canta com galhardia.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
Jaguarão chico e vichadeiro
Se alvorotou a peonada
Do caseiro ao capataz
Todos de bota ensebada
E o careca zaragosa
Nem liga prás gineteada.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
A prendinha ana luiza
Filha do nosso patrão
Já encargo água de cheiro
Vinda de outros rincão
E um delantal colorado
Partido de sua opinião.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.


















































Os Monarcas : Mateando e Pitando
De vez enquando bate na idéia da gente uma vontado de reviver o passado o pé na estrada visitar outro vivente matar saudade que muito tem me judiado
Sorver um mate num rancho de um velho amigo,botar em dia os assuntos do rincão falar de festa,baile xucro e cantoria
são essas coisas que me alegram o coração

Refrão
Mateando e pitando,na beira do fogo,roncando uma gaita,ponteando um violão o vento que sopra na quincha
do rancho provoca arepios trazendo inspiraçao(2x)

penso na norte pelos caminhos que passo sou abençoado quando vou e quando venho ajójo apreço quando recebo um abraço chegando ao rancho desses amigos que tenho essa cultura que irmana esses campeiros eternizando a convivência do gaúcho Ser recebido no estilo galponeiro num velho rancho onde o chique é não ter luxo

Refrão(4x)


Jayme Caetano Braun - Do Tempo

  O tempo vai repontando

         O meu destino pagão
         Vou tenteando o chimarrão
         Da madrugada clareando
         Enquanto escuto estralando
         O velho brasedo vivo
         Nesse ritual primitivo
         Sempre esperando,                                  esperando...

É a sina do tapejara

         Nós somos herdeiros dela
         Bombear a barra amarela
         Do dia quando se aclara
         Sentir que a mente dispara
         Nos rumos que o tempo traça
         Eu me tapo de fumaça
         E olho  o tempo veterano
         Entra ano e passa ano
         Ele fica a gente passa

Que viu o tempo passar

         Há muita gente que pensa
         Mas é grande a diferença
         Ele não sai do lugar
         A gente que vive a andar
         Como quem cumpre um ritual

É o destino do mortal

         É o caminho dos mortais
         Andar e andar nada mais
         Contra o tempo, sempre igual.

Tempo é alguém que permanece

         Misterioso impenetrável
         Num outro plano imutável
         Que o destino desconhece
       Por isso a gente envelhece
         Sem ver como envelheceu

Quando sente aconteceu
        
         E depois de acontecido
         Fala de um tempo perdido
         Que a rigor nunca foi seu.

Pensamento complicado

         Do índio que chimarreia
         Bombeando na volta e meia
         Do presente no passado

Depois sigo ensimesmado

         Mateando sempre na espera
         O fim da estrada é a tapera

         O não se sabe do eterno
         Mas a esperança do inverno
         É a volta da primavera.

Os sonhos são estações

         Em nossa mente de humanos
         Que muitas vezes profanos

         Buscamos compensações

         Na realidade as razões

      Onde encontramos saída

         Nessa carreira perdida

         Que contra o tempo corremos

       Já que, a rigor, não sabemos

         O que  haverá além da vida.

     Dentro das filosofias

         Dos confúcios galponeiros

         Domadores, carreteiros
         Que escutei nas noites frias
         Acho que a fieira dos dias
         Não vale a pena contar     
   
       E chego mesmo a pensar

         Olhando o brasedo perto
         Que a vida é um crédito aberto
         Que é preciso utilizar.

       Guardar dias pro futuro
         É sempre a grande tolice
         O juro é sempre a velhice
         E de que adiante este juro
         Se ao índio mais queixo duro
         O tempo amansa no assédio
         Gastar é o melhor remédio
       No repecho e na descida
         Porque na conta da vida não adianta saldo médio!



Composição: Jayme Caetano Braun

Um par se vem. Outro que vai, outro que fica
E a gaita louca, se desmancha no salseiro
Salta faísca, com fumaça de candeeiro
E reverbera no cabelo da marica

A gaita velha muitas vezes é culpada
Do diz-que-diz-que nos bochinchos e segredos
Mas o gaiteiro, faz de conta e não diz nada
Porque bem sabe que os culpados são os dedos

(Em cada china cada olhar é uma aripuca
Promessa linda que tonteia quando chama
Na vaneirita que se adoça e se derrama
Um céu de estrelas nas pupilas da maruca)


Um galo canta, um cusco acoa, um touro berra
E na penumbra, parceria se abaguala
O chinaredo farejou cheiro de terra
E há uma neblina galopeando pela sala
E a gaita xucra se aveluda se alonjura
Depois se amansa num soluço de ansiedade
E anda nos ares gaguejando uma saudade
Não há quem saiba de onde vem tanta ternura

Encontro com Juca Ruivo
Composição: Jayme Caetano Braun

Virava de meio dia,
tempo quente de mormaço.
Quando pegava meu braço
era o Nogueira Leria,
índio que a gente aprecia,
crioulo do cerne atona.

Vinha rustindo carona
no costado d'outro qüera.
Era o Ruivo da tapera.
Era o Ruivo da cordeona.
Era o Ruivo que venero
desd'as tropeadas da infância
e que aprecio à distância
com grande apreço sincero.

Era o Ruivo quero-quero
da tradição campechana.
Era o Ruivo, a voz pampeana
do canal das Missões.
Era o pajé dos fogões
com floreios na badana.

Era o Ruivo da saudade,
o passado vindo das eras
olfateando primaveras
no rumo da mocidade.

Era o Ruivo de verdade
mais sério que um Urutaú.
O Ruivo cujo recau,
entre as costuras dos bastos
guarda as sementes dos pastos
das querências do Jarau.

Era o Ruivo do Umbú
da tapera desquinxada.
O Ruivo venta-rasgada
dos trastes de couro cru.
O Ruivo do Inhã-Quetru
de coração abugrado
que o fogão arrinconado
lamenta alguém que se foi
e só vê olho de boi
onde sumiu o seu tostado.

O Ruivo do Quaraí,
que mamou no Garupá.
O Ruivo do Boi Tatá
e da petiça de Anvilha.
O Ruivo do Ibicuí
de gloriosas correrias.
O cantor das Sesmarias,
que o Rio Grande consagrou.
A saudade se plantou
junto à cruz do Malaquias.

O Ruivo que o Aureliano,
numa tarde, quase inverno,
benzeu, num mate fraterno
chimarreando mano a mano,
enquanto o vento aragano
pelas copas se arranchou
e a labareda ondulou
como cabelo de gringa
que se atirou na restinga
e, por amor, se afogou.

O Ruivo que eu encontrei
depois de tanto tropear,
Sem as garras de domar
com que de longe sonhei.
o Ruivo de buena lei
que simpatias deságua.
Até na gaúcha mágoa
demonstra grande fortuna.
É quieto como laguna
quando tem céus dentro dágua.

Ah, Ruivo, bem imaginas,
no teu instinto avoengo,
as mágoas deste andarengo
que vaga trançando esquinas
sem umbús nem sina-sinas.
Que mal o céu pode ver?
Mas que anseia renascer
numa gaita, nem que seja
quando um broto de carqueja,
um dia, quando volver.

Juca Ruivo é, sem alarde,
um guarda-fogo de angico.
E o galpão de pára a xico
quando esse teu astro arde.
Eu quero dizer, mais tarde,
andarengo payador,

ao falar do verso-flor
pra que todo mundo entenda:
Juca Ruivo não é lenda,
eu conheci esse cantor!



Poesia: China


A maior das gauchadas
Que há na Sagrada Escritura,
- Falo como criatura,
Mas penso que não me engano! -
É aquela, em que o Soberano,
Na sua pressa divina,
Resolveu fazer a china
Da costela do Paisano!

Bendita china gaúcha
Que és a rainha do pampa,
E tens na divina estampa
Um quê de nobre e altivo.
És perfume, és lenitivo
Que nos encanta e suaviza
E num minuto escraviza
O índio mais primitivo!

Fruto selvagem do pago,
Potranquita redomona,
Teus feitiços de madona
Já manearam muito cuera,
E o teu andar de pantera,
Retovado de malícia
Nesta querência patrícia
Fez muito rancho tapera!

Refletem teus olhos negros
Velhas orgias pagãs
E a beleza das manhãs,
Quando no campo clareia...
Até o sol que te bronzeia
Beijando-te a estampa esguia
Faz de ti, prenda bravia
Uma pampeana sereia!

Jamais alguém contestou
O teu cetro de realeza!
E o trono da natureza
É teu, chinoca lindaça...
Pois tu refletes com graça
As fidalgas Açorianas
Charruas e Castelhanas
Vertentes Vivas da Raça!


A mimosa curvatura
Desse teu corpo moreno
É o pago em ponto pequeno
Feito com arte divina,
E o teu colo que se empina
Quando suspiras com ânsia
São dois cerros na distância
Cobertos pela neblina.

Quem não te adora o cabelo
mais negro que o picumã?
E essa boca de romã
Nascida para o afago,
Como que a pedir um trago
Desse licor proibido
Que o índio bebe escondido
Desde a formação do Pago?

Pra mim tu pealaste os anjos
Na armada do teu sorriso,
Fugindo do Paraíso,
Para esta campanha agreste,
E nalgum ritual campestre,
Por força do teu encanto,
Transformaste o pago santo
Num paraíso terrestre!