Na Baixada Do ManducaOs MonarcasComposição: Noel Guarany.Lá na baixada do manduca Hay reboliço de china Três guitarras orientales E uma gaita corrientina E o biriva rio grandense Com toadas lisboinas. E dê - lhe mate pelos cantos No compasso da chamarra Entra juca e sai manduca E dê - lhe cordeona e guitarra. E dê - lhe mate pelos cantos No compasso da chamarra Entra juca e sai manduca E dê - lhe cordeona e guitarra. O chinaredo lá da estância Se "aprepara" já faz dias Segundo siá basilícia Vai trazer várias famílias Prá escutar o dom ortaça E o gaiteiro malaquias E o cantor da bossoroca Que canta com galhardia. E dê - lhe mate pelos cantos No compasso da chamarra Entra juca e sai manduca E dê - lhe cordeona e guitarra. E dê - lhe mate pelos cantos No compasso da chamarra Entra juca e sai manduca E dê - lhe cordeona e guitarra. Jaguarão chico e vichadeiro Se alvorotou a peonada Do caseiro ao capataz Todos de bota ensebada E o careca zaragosa Nem liga prás gineteada. E dê - lhe mate pelos cantos No compasso da chamarra Entra juca e sai manduca E dê - lhe cordeona e guitarra. E dê - lhe mate pelos cantos No compasso da chamarra Entra juca e sai manduca E dê - lhe cordeona e guitarra. A prendinha ana luiza Filha do nosso patrão Já encargo água de cheiro Vinda de outros rincão E um delantal colorado Partido de sua opinião. E dê - lhe mate pelos cantos No compasso da chamarra Entra juca e sai manduca E dê - lhe cordeona e guitarra. E dê - lhe mate pelos cantos No compasso da chamarra Entra juca e sai manduca E dê - lhe cordeona e guitarra. |
Os Monarcas : Mateando e Pitando
De vez enquando bate na idéia da gente uma vontado de reviver o passado o pé na estrada visitar outro vivente matar saudade que muito tem me judiado
Sorver um mate num rancho de um velho amigo,botar em dia os assuntos do rincão falar de festa,baile xucro e cantoria
são essas coisas que me alegram o coração
Refrão
Mateando e pitando,na beira do fogo,roncando uma gaita,ponteando um violão o vento que sopra na quincha
do rancho provoca arepios trazendo inspiraçao(2x)
penso na norte pelos caminhos que passo sou abençoado quando vou e quando venho ajójo apreço quando recebo um abraço chegando ao rancho desses amigos que tenho essa cultura que irmana esses campeiros eternizando a convivência do gaúcho Ser recebido no estilo galponeiro num velho rancho onde o chique é não ter luxo
Refrão(4x)
Jayme Caetano Braun - Do Tempo
O tempo vai repontando
O meu destino pagão
Vou tenteando o chimarrão
Da madrugada clareando
Enquanto escuto estralando
O velho brasedo vivo
Nesse ritual primitivo
Sempre esperando, esperando...
É a sina do tapejara
Nós somos herdeiros dela
Bombear a barra amarela
Do dia quando se aclara
Sentir que a mente dispara
Nos rumos que o tempo traça
Eu me tapo de fumaça
E olho o tempo veterano
Entra ano e passa ano
Ele fica a gente passa
Que viu o tempo passar
Há muita gente que pensa
Mas é grande a diferença
Ele não sai do lugar
A gente que vive a andar
Como quem cumpre um ritual
É o destino do mortal
É o caminho dos mortais
Andar e andar nada mais
Contra o tempo, sempre igual.
Tempo é alguém que permanece
Misterioso impenetrável
Num outro plano imutável
Que o destino desconhece
Por isso a gente envelhece
Sem ver como envelheceu
Quando sente aconteceu
E depois de acontecido
Fala de um tempo perdido
Que a rigor nunca foi seu.
Pensamento complicado
Do índio que chimarreia
Bombeando na volta e meia
Do presente no passado
Depois sigo ensimesmado
Mateando sempre na espera
O fim da estrada é a tapera
O não se sabe do eterno
Mas a esperança do inverno
É a volta da primavera.
Os sonhos são estações
Em nossa mente de humanos
Que muitas vezes profanos
Buscamos compensações
Na realidade as razões
Onde encontramos saída
Nessa carreira perdida
Que contra o tempo corremos
Já que, a rigor, não sabemos
O que haverá além da vida.
Dentro das filosofias
Dos confúcios galponeiros
Domadores, carreteiros
Que escutei nas noites frias
Acho que a fieira dos dias
Não vale a pena contar
E chego mesmo a pensar
Olhando o brasedo perto
Que a vida é um crédito aberto
Que é preciso utilizar.
Guardar dias pro futuro
É sempre a grande tolice
O juro é sempre a velhice
E de que adiante este juro
Se ao índio mais queixo duro
O tempo amansa no assédio
Gastar é o melhor remédio
No repecho e na descida
Porque na conta da vida não adianta saldo médio!
Composição: Jayme Caetano Braun
Um par se vem. Outro que vai, outro que fica
E a gaita louca, se desmancha no salseiro
Salta faísca, com fumaça de candeeiro
E reverbera no cabelo da marica
A gaita velha muitas vezes é culpada
Do diz-que-diz-que nos bochinchos e segredos
Mas o gaiteiro, faz de conta e não diz nada
Porque bem sabe que os culpados são os dedos
(Em cada china cada olhar é uma aripuca
Promessa linda que tonteia quando chama
Na vaneirita que se adoça e se derrama
Um céu de estrelas nas pupilas da maruca)
Um galo canta, um cusco acoa, um touro berra
E na penumbra, parceria se abaguala
O chinaredo farejou cheiro de terra
E há uma neblina galopeando pela sala
E a gaita xucra se aveluda se alonjura
Depois se amansa num soluço de ansiedade
E anda nos ares gaguejando uma saudade
Não há quem saiba de onde vem tanta ternura
Encontro com Juca Ruivo
Composição: Jayme Caetano BraunVirava de meio dia,
tempo quente de mormaço.
Quando pegava meu braço
era o Nogueira Leria,
índio que a gente aprecia,
crioulo do cerne atona.
Vinha rustindo carona
no costado d'outro qüera.
Era o Ruivo da tapera.
Era o Ruivo da cordeona.
Era o Ruivo que venero
desd'as tropeadas da infância
e que aprecio à distância
com grande apreço sincero.
Era o Ruivo quero-quero
da tradição campechana.
Era o Ruivo, a voz pampeana
do canal das Missões.
Era o pajé dos fogões
com floreios na badana.
Era o Ruivo da saudade,
o passado vindo das eras
olfateando primaveras
no rumo da mocidade.
Era o Ruivo de verdade
mais sério que um Urutaú.
O Ruivo cujo recau,
entre as costuras dos bastos
guarda as sementes dos pastos
das querências do Jarau.
Era o Ruivo do Umbú
da tapera desquinxada.
O Ruivo venta-rasgada
dos trastes de couro cru.
O Ruivo do Inhã-Quetru
de coração abugrado
que o fogão arrinconado
lamenta alguém que se foi
e só vê olho de boi
onde sumiu o seu tostado.
O Ruivo do Quaraí,
que mamou no Garupá.
O Ruivo do Boi Tatá
e da petiça de Anvilha.
O Ruivo do Ibicuí
de gloriosas correrias.
O cantor das Sesmarias,
que o Rio Grande consagrou.
A saudade se plantou
junto à cruz do Malaquias.
O Ruivo que o Aureliano,
numa tarde, quase inverno,
benzeu, num mate fraterno
chimarreando mano a mano,
enquanto o vento aragano
pelas copas se arranchou
e a labareda ondulou
como cabelo de gringa
que se atirou na restinga
e, por amor, se afogou.
O Ruivo que eu encontrei
depois de tanto tropear,
Sem as garras de domar
com que de longe sonhei.
o Ruivo de buena lei
que simpatias deságua.
Até na gaúcha mágoa
demonstra grande fortuna.
É quieto como laguna
quando tem céus dentro dágua.
Ah, Ruivo, bem imaginas,
no teu instinto avoengo,
as mágoas deste andarengo
que vaga trançando esquinas
sem umbús nem sina-sinas.
Que mal o céu pode ver?
Mas que anseia renascer
numa gaita, nem que seja
quando um broto de carqueja,
um dia, quando volver.
Juca Ruivo é, sem alarde,
um guarda-fogo de angico.
E o galpão de pára a xico
quando esse teu astro arde.
Eu quero dizer, mais tarde,
andarengo payador,
ao falar do verso-flor
pra que todo mundo entenda:
Juca Ruivo não é lenda,
eu conheci esse cantor!
Poesia: China | |||||
A maior das gauchadas Que há na Sagrada Escritura, - Falo como criatura, Mas penso que não me engano! - É aquela, em que o Soberano, Na sua pressa divina, Resolveu fazer a china Da costela do Paisano! Bendita china gaúcha Que és a rainha do pampa, E tens na divina estampa Um quê de nobre e altivo. És perfume, és lenitivo Que nos encanta e suaviza E num minuto escraviza O índio mais primitivo! Fruto selvagem do pago, Potranquita redomona, Teus feitiços de madona Já manearam muito cuera, E o teu andar de pantera, Retovado de malícia Nesta querência patrícia Fez muito rancho tapera! Refletem teus olhos negros Velhas orgias pagãs E a beleza das manhãs, Quando no campo clareia... Até o sol que te bronzeia Beijando-te a estampa esguia Faz de ti, prenda bravia Uma pampeana sereia! Jamais alguém contestou O teu cetro de realeza! E o trono da natureza É teu, chinoca lindaça... Pois tu refletes com graça As fidalgas Açorianas Charruas e Castelhanas Vertentes Vivas da Raça! | |||||
A mimosa curvatura
Desse teu corpo moreno
É o pago em ponto pequeno
Feito com arte divina,
E o teu colo que se empina
Quando suspiras com ânsia
São dois cerros na distância
Cobertos pela neblina.
Quem não te adora o cabelo
mais negro que o picumã?
E essa boca de romã
Nascida para o afago,
Como que a pedir um trago
Desse licor proibido
Que o índio bebe escondido
Desde a formação do Pago?
Pra mim tu pealaste os anjos
Na armada do teu sorriso,
Fugindo do Paraíso,
Para esta campanha agreste,
E nalgum ritual campestre,
Por força do teu encanto,
Transformaste o pago santo
Num paraíso terrestre!
Desse teu corpo moreno
É o pago em ponto pequeno
Feito com arte divina,
E o teu colo que se empina
Quando suspiras com ânsia
São dois cerros na distância
Cobertos pela neblina.
Quem não te adora o cabelo
mais negro que o picumã?
E essa boca de romã
Nascida para o afago,
Como que a pedir um trago
Desse licor proibido
Que o índio bebe escondido
Desde a formação do Pago?
Pra mim tu pealaste os anjos
Na armada do teu sorriso,
Fugindo do Paraíso,
Para esta campanha agreste,
E nalgum ritual campestre,
Por força do teu encanto,
Transformaste o pago santo
Num paraíso terrestre!